Mesmo em um clima econômico mais favorável ao consumo, 5% dos brasileiros mantiveram a preocupação com a aquisição de produtos mais sustentáveis. Os dados são da Pesquisa Akatu 2012: Rumo à Sociedade do Bem-Estar, que entrevistou 800 pessoas com mais de 16 anos, moradores de 12 regiões metropolitanas do país e de todas as classes sociais.

O relatório mostra que, em relação a 2010, aumentou o número de pessoas que “às vezes” se preocupa com ações mais sustentáveis, como, por exemplo, planejar a compra de alimentos e roupas, desligar lâmpadas, fechar torneiras, usar o verso do papel e ler rótulos de produtos.

Os entrevistados demonstraram também que priorizam cada vez mais situações sociais ao invés de práticas de consumo. No quesito afetividade, 8,3, em uma escala de 0 a 10, preferem passar mais tempo com amigos e família, e apenas 2,6 optam por comprar presentes.

A pesquisa aponta ainda que 80% dos participantes consideram que conviver bem com a família e amigos os aproxima da felicidade, enquanto apenas 3 em 10 indicaram a tranquilidade financeira como resposta para a pergunta “o que é felicidade para você?”.

“Foi uma surpresa perceber que a aquisição se mostra como meio e não como o fim para a felicidade”, diz Dalberto Adulis, gerente de conteúdos e metodologia da Akatu.

Para o economista Ricardo Abramovay, um dos pontos mais interessantes da pesquisa foi o indicador sobre desejos, onde a preferência por mobilidade alcançou um índice de quase 8, na escala de 0 a 10, enquanto a vontade de ter um automóvel próprio não passou de 5. “O carro, que foi por muito tempo um emblema de status e prestígio, perdeu espaço”, diz.

ESCOLHA CRÍTICA

O modo como as empresas atuam também influencia na hora da compra. Foram destacados cinco aspectos que motivam a preferência pelas marcas: “não maltratar animais” (52%), “ter boas relações com a comunidade” (46%), “ter selos de proteção ambiental” (46%), “ajudar na redução do consumo de energia” (44%) e “ter selo de garantia de boas condições de trabalho” (43%).

No entanto, a confiança nas publicações divulgadas pelas empresas sobre Responsabilidade Social Empresarial caiu de 13% para 8%. O indicador pode estar relacionado ao crescimento do interesse e à compreensão sobre sustentabilidade. Em dois anos, o percentual de brasileiros que “ouviram falar” do termo sustentabilidade aumentou de 44% para 60%, e a escolha pelo tema também passou a crescer quando comparado com assuntos como negócios e política.

“A realização da Rio+20 e a cobertura da mídia ajudaram a popularizar o tema. Falta agora ampliar a percepção de que sustentabilidade não está ligada só ao aspecto ambiental, mas engloba também a área social e econômica e, principalmente, considera importante a dimensão de tempo que relaciona as atividades atuais com o impacto no futuro das novas gerações”, afirma Adulis.

Para ele, “é necessário que cada um reflita como cidadão, em suas escolhas pessoais, para a mudança cada vez mais rápida de comportamento”.

Já para Abramovay, a responsabilidade maior é das empresas, que precisam implantar formas produtivas para estimular a reciclagem desde a concepção do produto. “O setor empresarial é o principal responsável pela passagem da economia linear para a circular, onde tudo é reaproveitado e não jogado fora. Não podemos jogar a responsabilidade só nas costas do consumidor.”

Fonte: Folha.com