Após a retração da economia brasileira no primeiro e segundo trimestres deste ano, o que configura um quadro de “recessão técnica”, o governo revisou novamente para baixo a sua estimativa de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2014.

Segundo o relatório de receitas e despesas do orçamento federal do quarto bimestre, divulgado nesta segunda-feira (22) pelo Ministério do Planejamento, a expectativa oficial do governo para a expansão do PIB neste ano foi reduzida de 1,8% para 0,9%.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, e serve para medir a evolução da economia. Em 2013, a economia cresceu 2,5%.

Se a alta de 0,9% for confirmada para todo este ano, será o pior resultado desde 2009 – quando foi registrada uma contração de 0,33% no PIB brasileiro. Naquele momento, a economia brasileira sentia mais fortemente os efeitos da crise financeira internacional.

Além disso, para tentar fechar as contas em 2014, o governo anunciou que vai buscar R$ 3,5 bilhões do fundo soberano, uma economia feita em 2008, quando houve excesso de superávit primário (a economia para pagar juros da dívida pública e tentar manter sua trajetória de queda). O recurso será utilizado para atingir meta fiscal de superávit primário, fixada em R$ 99 bilhões para todo o setor público consolidado (governo, estados, municípios e empresas estatais).

Em entrevista à GloboNews, no último dia 3, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que será mais difícil neste ano atingir o superávit primário previsto para 2014. “Neste ano temos uma situação mais difícil, mas faremos um primário, estaremos sempre no positivo, sempre com alguma poupança, e nós temos que fazer correções de rota”, disse.

Previsões em queda

A redução na estimativa oficial do governo para o crescimento da economia já era esperada, uma vez que o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, já havia antecipado que isso aconteceria. “Teremos que revisar para baixo a expectativa no relatório de setembro”, disse ele, em julho.

Mesmo com a queda na previsão do governo, ela ainda está bem acima do que acredita do mercado financeiro. Segundo pesquisa conduzida pelo Banco Central na semana passada com mais de 100 instituições financeiras, a previsão dos analistas dos bancos para o PIB de 2014 está em apenas 0,3% de alta.

Para o BC, a economia deverá crescer 1,6% em 2014, mas este valor também deverá ser revisto para baixo na próxima semana – quando sai o relatório de inflação do terceiro trimestre de 2014.

‘Dança da cordinha’

Em abril do ano passado, quando divulgou a proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2014, o governo previu, oficialmente, um crescimento de 4,5% para o PIB deste ano.

Na proposta de orçamento deste ano, enviada pelo Executivo ao Congresso em agosto de 2013, a previsão de alta já havia caído para 4% de alta. O Congresso Nacional, por sua vez, revisou a estimativa de crescimento de 2014 para 3,8%.

Em fevereiro deste ano, quando foi anunciado o corte de R$ 44 bilhões no orçamento, a previsão do governo para a expansão do PIB em 2014 caiu para 2,5% e, em julho, recuou novamente, desta vez para 1,8% – passando para 0,9% agora em setembro.

As constantes revisões para baixo do mercado e do governo levaram o jornal “Financial Times” a comparar o movimento com a brincadeira da “dança da cordinha”, em que em que é preciso passar sob uma corda, que fica mais baixa a cada rodada.

Inflação

Ao mesmo tempo em que baixou sua estimativa de crescimento econômico para 2014, o governo federal manteve em 6,20% sua expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – considerada a inflação oficial do país. Em 2013, a inflação ficou em 5,91%.

Mesmo assim, o valor estimado pelo governo federal para a inflação em 2014 segue abaixo da expectativa do mercado financeiro, que foi captada pelo Banco Central na semana passada em pesquisa com mais de 100 instituições financeiras. Para os economistas, o IPCA deste ano deve ficar em 6,30%.

Segundo esse sistema, a meta central tanto para 2014 como para 2015 é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desse modo, o IPCA pode oscilar entre 2,5% e 6,5%, sem que a meta seja formalmente descumprida.