Um dos legados que a explosão do crédito de 2008 deixou foi a taxa da inadimplência. De acordo com dados do Banco Central (BC), o nível vem caindo, mas para especialistas, o índice ainda é preocupante e tem sido provocado principalmente pelo uso dos cartões de crédito.

Segundo dados do Serviço de proteção ao crédito (SPC Brasil), a média nacional de inadimplência teve um crescimento de 4,39% em junho com relação ao mesmo período no ano passado. As regiões mais atingidas foram os estados que tiveram maior crescimento da classe C nos últimos anos: o Norte e o Nordeste. Dentro das regiões os maiores índices de crescimento foram encontrados no Acre, com 10,58%, em Roraima, com 10,47%, no Maranhão, com 9,40%, em Sergipe, com 8,43% e no Ceará, com 8,13% de alta .

Para o educador financeiro da DSOP, Reinaldo Domingos, o poder da classe C se deu em grande parte pela concessão de crédito mais flexível alguns anos atrás e, agora, com a taxa Selic em 11% e uma maior seletividade dos bancos, essa população sofreu uma perda na capacidade de pagamento. “Quando o consumo é embasado no crédito, a fragilidade financeira das famílias é maior”, esclareceu Domingos.

“Acredito que o uso do crédito é algo positivo, mas deve ser usado com consciência para que os imprevistos financeiros não coloquem em risco a renda mensal”, alerta o educador. De acordo com ele, a maior parte da população precisa refletir sua relação com o uso do crédito. “O crédito muitas vezes não é visto como uma dívida, pelo contrario, já é incluído no orçamento familiar”, diz.

Para ele, o limite do cartão não pode ser superior a 50% da renda mensal e a soma das parcelas dividida pelo salário não pode ser superior a 30%. “Se o consumidor não tiver cuidado na hora de consumir pode correr o risco que a somatória de suas dívidas comprometa em alguns meses seu ganho naquele mês. Porque isso pode gerar um descontrole financeiro e ao endividamento crônico”, explica Domingos.

Segundo o especialista em educação financeira, o índice de inadimplência é muitas vezes subestimado pelas pesquisas porque esquecem de incluir o número de pessoas com parcelamento no cartão no número de dívidas. “O cartão é uma dívida e se não for levado a sério a bolha do crédito pode levar à falência”, conclui o educador da DSOP.

Já segundo os dados do Banco Central, o percentual de inadimplência passou de 5,3% em março de 2013 para 4,5% no mesmo período este ano. No segmento de pessoas físicas o indicador passou de 5,3% para 4,5% e as pessoas jurídicas representaram queda de 2,3% para 2%.

De acordo com Ricardo Vieira, Diretor Executivo da Abecs, o brasileiro está usando o cartão de crédito cada vez melhor e tem se esforçado para não fazer mais dívidas. “Uma grande parcela da população tem melhorado a qualidade do uso dos cartões de crédito. Uma parcela mínima tem dividido ao compra e utilizado o crédito rotativo”, explica Vieira. “Além disso, temos visto um crescimento na taxa de emprego e o nível de vendas”, conclui o diretor.

Para o presidente da consultoria em varejo Boanerges & Cia, Boanerges Ramos Freire, o nível vem diminuindo pela queda da oferta e da demanda por crédito. Ele explica que a concessão de crédito está mais seletiva e o consumidor cauteloso com sua capacidade de consumo.

“De fato a inadimplência vem caindo, mas o boom do crédito também. Na época em que estava mais fácil a concessão, as pessoas aproveitaram para comprar o que não tinham ou queriam trocar, neste momento tal vez isso já não seja necessário. Além disso, a expectativa de crescimento econômico do País também fez com que a confiança do consumidor diminuísse”, explica Boanerges.

“Além disso, as pessoas já têm acesso ao crédito há mais tempo e estão mais experientes e com um mínimo de educação financeira. Eles aprenderam que o crédito não é renda e precisa ser pago depois. Essa nova consciência diminui a procura por crédito”, concluiu presidente da consultoria.