Diante da recusa de um pedido de crédito, a solução encontrada por muitos consumidores é usar o nome de amigos ou familiares. O empréstimo de nome é uma atitude solidária, mas que pode acarretar prejuízos e constrangimentos. Pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com o Sebrae, mostra que 32% dos consumidores fizeram compras com cheque, cartão de crédito, crediário, empréstimo ou financiamento utilizando o nome de outra pessoa nos últimos 12 meses anteriores à pesquisa, sendo que 24% utilizaram o cartão de crédito. Em seguida, aparecem o crediário (6%) e os empréstimos (5%). Financiamentos (2%) e cheque (2%) foram menos mencionados.

De acordo com o estudo, a prática é utilizada, principalmente, por quem está com dificuldades de acesso ao crédito ou enfrenta imprevistos e não conta com uma reserva de emergência. A principal razão apontada pelos entrevistados para fazer compras em nome de outra pessoa foi o estouro no limite do cartão de crédito e/ou cheque especial com 31%, seguido da falta de acesso a esses tipos de crédito, tentou mas não foi aprovado (19%) e nunca tentaram o acesso (17%).

Na avaliação do presidente da CNDL, José César da Costa, o consumidor que empresta seu nome precisa refletir sobre as consequências do ato, pois a responsabilidade legal sobre a dívida é sempre de quem emprestou, já que, formalmente, ele é o titular da pendência financeira.

“As consequências do empréstimo de nome podem ser muito ruins, tanto do ponto de vista financeiro quanto do ponto de vista das relações sociais. Há casos que resultaram em negativação do emprestador do nome. Quem empresta o nome a um terceiro que teve o crédito negado por uma instituição financeira assume o risco que aquela instituição preferiu não correr, tendo que arcar com eventuais atrasos”, destaca Costa.

Pais e cônjuges são os mais abordados por quem pede nome emprestado; 13% dos que emprestaram o nome para terceiros fazer compras ficaram com o nome sujo

O estudo revela ainda que, na hora de pedir o nome emprestado, as pessoas mais procuradas são aquelas do círculo de convivência, como cônjuges (31%) e pais (24%). Amigos aparecem em seguida, citados por 17% dos entrevistados, seguido pelos irmãos (16%). Outros parentes foram mencionados por 14%. Namorados(as) foram citados por 9%, enquanto os colegas de trabalho foram alvo de 5%.

A pesquisa revela que os argumentos de convencimento mais utilizados por quem pede o nome emprestado variam: 26% mencionaram a necessidade de fazer supermercado; a necessidade de compras para os filhos (24%); o pagamento de uma dívida (20%). Outro argumento foi a necessidade de comprar remédios para tratar uma doença (13%). Todos esses argumentos cresceram na comparação com 2021. Os solicitantes também citaram a reforma da casa (12%), a compra de vestuário e calçados (12%) e a compra de presentes (11%). Por outro lado, 19% não apresentaram argumentos, apenas pediram o empréstimo do nome.

A maioria dos consumidores (90%) afirma que quitou ou tem quitado as parcelas em dia. Entre esses consumidores, 70% estão pagando em dia o cartão de crédito; 15% estão em dia com o crediário e 10% com os empréstimos. Mas também um percentual de 13% que não tem conseguido honrar ao menos um dos compromissos assumidos. Nesses casos, as principais justificativas foram a queda da renda (27%), os problemas de saúde (22%), e até mesmo o gasto com outras coisas, de acordo com 15%. A perda do emprego foi citada por 14%, entre outros motivos.

Houve casos de negativação da pessoa que emprestou o nome, situação mencionada por 13% daqueles que deixaram de pagar as parcelas em dia.

Independentemente de ter atrasado ou não, 66% dos consumidores que fizeram compras usando o nome de um terceiro e deixaram de pagar alguma parcela relatam a cobrança de quem concedeu o próprio nome, sendo que 21% ouviram que se não pagasse nunca mais teria esse favor novamente, 17% foram lembrados de que o empréstimo foi feito confiando no solicitante do empréstimo de nome e 16% ouviram que o dinheiro estava fazendo falta.

Fazer pelo outro aquilo que outro faz por você nem sempre se aplica neste caso: quatro em cada dez desses consumidores dizem que emprestariam o nome para um amigo ou familiar fazer compras (42%), mas a maioria (58%) se esquiva, preferindo não emprestar.

Itens de supermercado, vestuário e eletrônicos são os itens mais comprados no nome de terceiros

Para a maioria dos que utilizam o nome de terceiros, a compra transcorre sem maiores dificuldades. É o que informam 63% dos que recorreram a essa prática. Nas lojas online, 18% tiveram alguma dificuldade, enquanto 16% tiveram obstáculo nas lojas físicas.

Os produtos comprados através do nome de um terceiro são diversos. Compras de supermercado (30%), roupas, calçados e acessórios (19%), eletrônicos (19%), itens de farmácia, incluindo remédios (18%) foram os mais citados. Também aparecem as viagens (11%), perfumes e cosméticos (11%) e até itens mais caros, como eletrodomésticos (11%) e carros, motos e acessórios (11%).

“Além do risco financeiro envolvido, existe o risco de que o empréstimo de nome a um terceiro abale as relações sociais. Quando o pedido for para algum item essencial, uma solução pode ser oferecer algum tipo de ajuda, mobilizando outros parentes, mas sem o compromisso de uma concessão de crédito. E nos casos do consumo de algo que não seja de primeira necessidade, é importante aprender a dizer não, até para preservar a relação de um desgaste maior no futuro”, destaca o presidente da CNDL.