Indicador marcou 29,46 pontos, sendo o maior desde outubro de 2015. Apesar disso, 64% dos MPEs não pretendem realizar investimentos nos próximos três meses e oito em cada dez não pretendem contratar crédito

Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes (CNDL) indicam que a intenção dos micro e pequenos empresários (MPEs) para realizar investimentos nos próximos 90 dias aumentou 12,3% em janeiro de 2017, marcando 29,46 pontos, sendo o maior resultado desde outubro de 2015. Ainda assim, o índice mostra que a propensão dos MPEs a investir continua baixa: o indicador varia de zero a 100, sendo que quanto mais próximo a 100, maior é demanda do empresário investimento.

Dentre os empresários que demonstram intenção de investir (24% do total), as principais finalidades são: ampliação de estoque (30%), reforma da empresa (29%), compra de equipamentos, maquinários etc (25%) e mídia ou propaganda (21%). O aumento nas vendas é o principal objetivo indicado pelos empresários (47%), enquanto outros 17% irão adaptar a empresa a novas tecnologias.

A maior parte dos que pretendem investir diz que fará uso de capital próprio, como poupança e investimento (64%) ou venda de algum bem (13%). 13% dos MPEs disseram que tomarão empréstimos em bancos e financeiras para investir no negócio.
No entanto, a maioria dos empresários (64%) não pretendem investir nos próximos três meses, sendo que, entre eles, 43% dizem não ver necessidade, 24% não o fazem por conta do atual momento de crise e 13% estão aguardando retorno de investimentos realizados recentemente.

Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, avalia que o Indicador de Propensão a Investir tem apresentado um nível baixo devido ao cenário de incerteza. “A recessão abala a confiança dos empresários, que acabam adiando planos de expansão dos negócios. No entanto, a queda da taxa de juros observada nos últimos meses e o aumento de confiança dos empresários podem ter influência positiva na procura por investimentos e tomada de crédito, ainda que de forma discreta, mas devem levar ainda algum tempo para se traduzir em aumento dos investimentos e da procura por crédito”, diz Marcela.

84% não pretendem contratar crédito nos próximos três meses
O Indicador de Demanda por crédito, também calculado pelo SPC Brasil e pela CNDL, mostra que 84% dos MPEs não pretendem tomar crédito nos próximos 90 dias, contra 6% que têm intenção de contratar. Apesar de aumentar 5% em relação a dezembro (12,3 pontos), o índice se manteve baixo, marcando 12,9 pontos no mês de janeiro.
O principal motivo que faz com que os empresários não tenham a intenção de tomar crédito é o fato de conseguirem se manter com os próprios recursos (47%), seguido de insegurança por causa da crise econômica (20%) e altas taxas de juros cobradas (18%).

A maioria (46,0%) dos micro e pequenos empresários que pretendem tomar crédito ainda não sabem qual modalidade será contratada. Utilizar o microcrédito é a intenção de 28% e cartão de crédito empresarial de 14%. Capital de giro é o destino do crédito mais citado (38%), seguido de reforma da empresa (18,0%), ampliação do negócio (16%) e pagamento de dívidas (16%).
Honório Pinheiro, presidente da CNDL, observa que a demanda dos MPEs por crédito se mantém baixa desde o início da série histórica do indicador, em maio de 2015, e as justificativas também são parecidas. “Podemos concluir que empresas desse porte têm maior facilidade em se manter com recursos próprios, o que faz com que tenham menor necessidade de contratar empréstimos. Além disso, as taxas de juros permanecem altas, apesar das quedas recentes, e isso desencoraja o empresário a assumir compromissos de longo prazo”, avalia.

Entre os que consideram contratar crédito algo difícil (34%), o excesso de burocracia dos bancos (45%) e as altas taxas de juros (42%) são as dificuldades mais citadas. A modalidade considerada mais difícil de ser contratada é o empréstimo em instituições financeiras (28%). Para os que consideram a contratação de crédito algo fácil (17%), bom relacionamento com os bancos (35%), estar com as contas em dia (13%) e documentação da empresa regularizada (13%) são as justificativas mais citadas.

Para Marcela Kawauti, há espaço para aumentar a demanda por crédito do micro e pequeno empresário. “Hoje, muitos MPEs consideram a contratação de crédito algo difícil e burocrático. O incentivo a políticas que facilitem a concessão e reduzam o custo do crédito é algo que pode mudar este cenário”, afirma.