O aumento da taxa básica de juros (a Selic)  de 7,25% para 7,5% pode ser o sinal que muitos investidores esperavam para reforçar suas apostas em aplicações como fundos DI ou CDBs pós-fixados.

Fundos DI e boa parte dos CDBs, em geral, rendem melhor quando a taxa de juros sobe porque pagam ao investidor um porcentual da chamada taxa CDI, fixada diariamente pelos bancos, e que acompanha de perto a evolução da taxa básica de juros.

E conforme pesquisas do próprio BC, economistas do mercado financeiro não acreditam que o ajuste dos juros vai parar por aqui. A alta da Selic é uma das ferramentas do governo para combater a inflação.

A taxa básica deve sofrer novos aumentos, até atingir, provavelmente, um patamar entre 8,50% e 8,75% no final deste ano, estabilizando em 2014, conforme o cenário básico dos especialistas.

Se essas previsões virarem realidade, até o rendimento da poupança tende a melhorar. Pelas novas regras, a aplicação mais popular do país deve pagar uma fatia (70%) da taxa básica.

Sem corrida para o CDI

Especialistas em finanças pessoais não mostram tanto entusiasmo assim pelas aplicações pós-fixadas. Por enquanto, a recomendação é somente para investidores com objetivos de curto prazo.

“Eu tenho sugerido para os clientes que tenham projetos de até dois anos, ou tenham interesse em formar um fundo de emergência, que busquem as LFTs. Para objetivos com um horizonte mais longo, não necessariamente essa é a melhor estratégia”, diz o planejador financeiro Rogério Nakata.

As LFTs são os títulos do Tesouro Direto que rendem o equivalente à 100% da taxa Selic (sem considerar impostos e taxas).

“Para o investidor com uma visão de médio e longo prazo, tem que pensar bem na questão dos custos de saída”, diz Roberto Kropp, diretor da Daycoval Asset Management.

Os custos de saída são os impostos pagos no resgate das aplicações, principalmente o Imposto de Renda. A mordida do Leão é maior quanto menos tempo o dinheiro ficou aplicado. Para depósitos abaixo de seis meses, a alíquota do IR sobre os ganhos é de 22,5%. Acima de dois anos, cai para 15%.

“No caso de um recurso que esteja parado na conta corrente, pode ser até uma boa ideia colocar um pouco dos recursos em investimento pós-fixado”, declara.

Incertezas sobre o rumo dos juros

A reticência dos especialistas se explica pelo fato de que, até o momento, não existe uma visão clara sobre a real disposição do governo em subir os juros e priorizar essa ferramenta para desestimular novos reajustes dos preços.

“Estou na contramão do mercado. Para mim, a atividade econômica vai começar a pesar. Nós vamos começar a ver daqui a pouco mais notícias sobre demissões e queda nas vendas. E os juros não devem subir, ou não vão subir tanto”, diz o consultor de finanças pessoais Fernando Meibak, da Moneyplan.

“Eu continuo um entusiasta das NTN-Bs [títulos do Tesouro Direto que protegem contra a inflação]. Acho que os preços estão muito oportunos”, afirma.

Muitos também afirmam que esse provável aumento dos juros vai ser pontual. Se realmente ocorrer, tende a ser revertido a partir do final de 2014 ou 2015.

Juros altos normalmente não favorecem a Bolsa

Como regra geral, um ambiente de juros mais altos não favorece a Bolsa. Entre outros fatores, porque o custo dos empréstimos para as empresas fica mais alto, afetando seus resultados.

Mas o mercado de ações tem seus defensores. Para Alexandra Almawi, economista da Lerosa Investimentos, a Bolsa está no “ponto de compra” para investidores com visão de médio e longo prazo.

Almawi chama a atenção para o distanciamento da Bolsa brasileira e de seus equivalentes no exterior, como a Bolsa de Nova York, onde as ações são negociadas em patamares históricos. Tradicionalmente, a Bolsa brasileira acompanha a trajetória do mercado americano.

“Por que acontece esse descolamento? Entre outros fatores, porque há muitas dúvidas sobre a intervenção do governo na economia”, diz a especialista.

A profissional da Lerosa Investimentos lembra que semana que vem o BC deve divulgar a ata da reunião de ontem, trazendo mais detalhes sobre os motivos que sustentaram a decisão de subir os juros.

O otimismo do mercado tende a aumentar (e o pessimismo sobre a Bolsa, a diminuir) se o documento confirmar as expectativas de que o governo não vai ser tolerante com a inflação.

Fonte: Uol Notícias