O nível de endividamento das famílias com os bancos avançou em doze meses até abril deste ano e atingiu o patamar recorde de 44,2%. Segundo informações divulgadas pelo Banco Central, nos doze meses até março o indicador estava em 43,9%.

“Isso é resultado de alguns fatores, como o crescimento menor do país, que gera menos renda, e, principalmente, por conta da alta da inflação, que acaba corroendo parte da renda das famílias, que buscam mais empréstimos”, explicou o vice-presidente da Associação de Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.

Crescimento desde 2005

O endividamento das famílias vem registrando alta desde o início da série histórica da autoridade monetária, em janeiro de 2005. Naquela época, estava em um patamar bem menor: 18,39%. Em fevereiro de 2007, atingiu a marca de 25% e, no início de 2008, superou a barreira dos 30%. A marca dos 40% foi registrada no começo de 2011.

Miguel Ribeiro, da Anefac, avaliou que a alta no endividamento das famílias nos últimos anos está relacionada com o ingresso de milhões de pessoas, nos últimos anos, no mercado de crédito. “Hoje é possível uma pessoa que mora em favela, e que não consegue comprovar enderenço, ter acesso ao crédito. Camelôs, sem comprovante de renda, também. São as classes C, D e E entrando no mercado de consumo”, afirmou.

De acordo com ele, o programa Minha Casa Melhor, que financia móveis e eletrodomésticos para os participantes do Minha Casa Minha Vida, com juros baixos, de 5% ao ano, também deve contribuir para elevar endividamento nos próximos meses. “Inevitavelmente, essa condição muito boa [de juros menores] pode trazer alta do endividamento”, declarou.

Casa própria

O vice-presidente da Anefac também analisou que parte desta alta no endividamento está ocorrendo por conta de famílias que estão tendo acesso ao crédito para compra da casa própria e, neste caso, isso é positivo. “É para aquisição de patrimônio. Isso acabou contribuindo para que houvesse um aumento. Mas é bom, porque as pessoas estão saindo dos alugueis e indo para a casa própria”, disse ele.

Os dados do BC mostram que, excluindo o crédito imobiliário, o endividamento das famílias, em doze meses até abril, ficou estável no patamar de 30,47% – o mesmo de março deste ano. Entretanto, está bem acima do registrado no início da série histórica, em 2005, quando somava 15,2%.

Comprometimento da renda cai

Os números da autoridade monetária também revelam que o comprometimento mensal da renda das famílias com pagamento de empréstimos para instituições financeiras registrou pequena queda no mês de abril, para 21,54%, contra 21,61% em março deste ano. Em 2005, este indicador estava em 15,61%, atingindo a barreira dos 20% em junho de 2011.

“O conjunto de prestações nunca deve ultrapassar 30% da renda, porque não se vive só de prestações. Também há gastos com Saúde, escola”, disse o executivo da Anefac. “O consumidor tem de ficar atento para que não busque tanto linhas de crédito de curto prazo, com juros maiores, como o cheque especial e o cartão de crédito”, explicou ele.

Segundo o economista, as facilidades do crédito muitas vezes induzem ao erro. “As pessoas não estão todas devidamente preparadas para lidar com o crédito. Mais recentemnete, os bancos vêm dando um pouco mais de orientação, mas falta o governo tentar dar mais educação financeira. É o impediatismo do brasileiro que ficou muitos anos sem acesso a nada de consumo, e isso pode induzir ao erro”, disse.

Fonte: G1