A ideia de abrir um negócio próprio já faz parte dos projetos de boa parte dos brasileiros. De acordo com uma pesquisa divulgada recentemente pela Endeavor, nos últimos dez anos, o número de empreendedores no país cresceu 44%. Hoje, a cada quatro pessoas que você encontra, três têm o desejo de montar uma empresa. No total, já são cerca de 27 milhões de pessoas envolvidas na criação de um empreendimento.

Para muitos, ser o próprio chefe é sinônimo de uma vida tranquila, com tempo para família, lazer, esporte e passeios, ou seja, uma vida completamente diferente de quando se é empregado. Porém, essa é uma realidade que está longe da maior parte dos empreendedores. Diria que essa é apenas mais uma lenda do mundo corporativo.

Em muitos casos, ao assumir um projeto novo, surge um processo invisível e silencioso que acontece no começo de muitos negócios, a “Síndrome da Fusão”: quando a vida pessoal se une com a vida empresarial. Empresa e vida pessoal se transformam em uma única coisa e nesse momento, começam a aparecer muitos problemas. Um sintoma clássico dessa síndrome é quando o pró-labore se mistura ao caixa da empresa.

Existem muitos sintomas da síndrome da fusão, no entanto, o caso se torna grave quando o empreendedor acha que essas ações estão certas! Esse é o momento em que ele descobre ter se transformado no pior tipo de patrão: o patrão de si próprio. Uma pessoa exigente, que cobra por resultados, sem ter superiores para pedir folga e que precisa trabalhar o máximo possível para a empresa crescer, mantendo todas as pessoas que agora dependem dele. O estresse toma conta, a ansiedade aumenta, os papéis se misturam, os problemas crescem e a empresa começa a quebrar.

Muitas vezes o próprio empreendedor não consegue enxergar esse cenário e só toma consciência da situação quando já é tarde demais. É fundamental que os papéis estejam separados e que apareçam dois perfis essenciais para o negócio: o técnico e o empreendedor.

O papel de técnico é o executor, que tem o conhecimento acumulado para criar e desenvolver os produtos e serviços da empresa, seu pensamento é o agora e a visão focada no seu ambiente de operação. O papel empreendedor é aquele que busca oportunidades, planeja o negócio a longo prazo, investe no desenvolvimento de estratégias, tem visão e sonhos para a empresa.

O problema para a maioria dos empreendedores é que o papel de técnico acaba tomando controle da vida e da empresa. Esse é um grande perigo. O técnico como todo executor, gosta de acumular o máximo possível de responsabilidades, pois tem como conceito, que devido ao seu conhecimento e experiência, é a pessoa ideal para fazer o trabalho bem feito. Essa atitude acaba tomando um tempo precioso do empreendedor que se vê absorvido pelo dia a dia operacional do negócio e não consegue ter tempo para que o papel de empreendedor apareça.

A parte mais difícil nessa história é fazer o empreendedor entender esse conceito. Quando olhamos a empresa pelo papel empreendedor, ela é vista como uma forma de negócio que deve crescer para atingir os objetivos pessoais e não comprometê-los. A empresa não é sua vida e sua vida não é a empresa. Nesse conceito, o empreendedor se foca para a empresa crescer cada vez mais, dependendo cada vez menos dele.

Um excelente começo para deixar o papel de empreendedor aflorar é dedicar algumas horas por semana para isso. Talvez para o lado técnico, ele diga que é “impossível se afastar 1h da empresa”, mas quanto mais o empreendedor aparecer, menos o técnico ficará dando desculpas, pois ele será domado com planejamento, estratégia e delegação. Minha sugestão é que você tire um ½ período por semana para se dedicar ao planejamento do seu negócio. Se possível se afaste do escritório para evitar ser interrompido. Você quer ter uma empresa lucrativa e que funcione bem, mas para isso é preciso dar tempo ao seu empreendedor!

Fonte: Uol Notícias