A gestão das verbas negociadas entre varejo e fornecedores é sem dúvida um dos grandes desafios dessa relação. Quando bem utilizadas, as verbas podem incrementar volumes de venda, promover produtos, ativar lançamentos, aumentar o giro de alguns itens, entre outros efeitos positivos. Mas, como nem tudo são flores, estas mesmas verbas, por outro lado, podem trazer consigo algumas armadilhas, tanto para o varejo quanto para a indústria, que podem e devem ser evitadas.

Pelo lado do varejo, a captação de verbas junto aos fornecedores é um ótimo impulsionador de resultados, mas deve ser analisado com cuidado e de modo separado da margem “pura”. Caso a margem-alvo somente seja atingida com alguma captação de verba junto ao fornecedor, é um sinal de alerta, alguma coisa está errada no preço de aquisição, na precificação ou mesmo na estratégia do produto.

Compartilho aqui uma experiência em uma grande rede de varejo alimentar onde fiz um longo projeto. Lá, vivenciei uma dessas armadilhas no dia a dia dos compradores. Além das metas de vendas e margem, o diretor comercial definiu que os compradores teriam também metas (em R$) de captação de verbas junto aos fornecedores, a cada negociação. Só se podia colocar pedido se houvesse verba. O comprador passou então a focar em vender espaços nos tabloides, anúncios na TV e na internet, espaços extras nas lojas, entre outros. Depois de alguns meses dessa prática implementada, o impacto no capital de giro foi brutal, a cobertura de estoque cresceu mais de 30%, sem incremento significativo nas vendas. Além disso, a concentração de vendas com os grandes fornecedores aumentou, dado que eram os maiores contribuintes do fundo de verbas. Quando as demais diretorias e o CEO perceberam o tamanho do problema e identificaram suas causas raízes, chamaram todos os fornecedores e tiveram que repactuar uma série de acordos para interromper o ciclo vicioso que estava estabelecido.

Outro caso interessante ocorreu quando outra rede nos chamou para auditarmos todo o processo de recebimentos de verbas. Haviam sido criados tantos tipos e tantas formas diferentes de capturá-los junto aos fornecedores que a gestão de verbas se perdeu, não sabiam mais quem tinha pagado e o quê, pois nem o sistema e nem os compradores estavam preparados para o controle que seria necessário.

Fonte: Administradores.com